PÉROLAS


As pérolas sempre me fascinaram.

Enquanto outras pedras preciosas brilham e aparecem, a pérola ilumina com suavidade, enfeita com naturalidade, e destaca-se de maneira sublime e elegante.

Enquanto outras pedras preciosas precisam ser lapidadas para mostrar sua beleza, as pérolas já nascem belas. São retiradas já prontas e polidas de seu berço de nascimento.

Enquanto outras pedras preciosas têm origem mineral, a pérola é única jóia que é o resultado de um processo orgânico vivo. E por ser naturalmente perfeita, é conhecida como a Rainha das Gemas.

Para os antigos, a formação de uma pérola continha magia. Seu surgimento fazia parte dos milagres incompreensíveis que deram início a várias crenças e costumes nos mais diversos lugares do mundo. As pérolas são mencionadas, ao longo de milênios, na mística, na religião, na arte, no folclore e literatura dos mais diferentes povos.

 Segundo algumas versões da Mitologia Greco-romana, a deusa da beleza e do amor, Vênus (para os romanos) ou Afrodite (para os gregos), nasceu dentro de uma concha madrepérola e foi criada pelas espumas do mar.

Alguns poemas épicos indianos contêm interessantes lendas sobre pérolas: “Após a criação do mundo os quatro elementos honraram o Criador, cada um com um presente. O Ar ofereceu-lhe um arco-íris; o Fogo, uma estrela cadente; a Terra, um precioso rubi e a Água, uma pérola”.

No texto paleocristão "Physiologus", existe um trecho belíssimo que diz: "Há uma concha no mar que leva o nome de concha vermelha. Ela emerge do fundo do mar... abre sua boca e bebe o orvalho do céu e o raio do sol, da lua e das estrelas, e por meio dessas luzes de grande poder, produz a pérola".

Os celtas usavam-nas para energizar um recipiente, conhecido como Vasilha Mãe, que mais tarde foi chamado Cálice Sagrado, fonte da imortalidade.

A origem mítica mais comum menciona conchas fecundadas através de temporais pelo trovão, o dragão celestial, e alimentadas pela luz da lua, gerando então a pérola.

Em sua simbologia, a pérola representa pureza e humildade. Segundo o catolicismo, a simbologia servia como suporte aos ensinamentos da Igreja. Os cristãos transformaram a pérola numa metáfora para o nascimento de Cristo. Ela representava a alma pura, inocente, cheia de fé e sabedoria, alojada num corpo terrestre, cercado de corrupções do mundo. Escritos cristãos antigos retratam o Cristo como "a grande pérola que Maria carregava". 

Os gnósticos comparam a busca da pérola à da salvação do homem, o seu drama espiritual. Ao encontrar a pérola, ele completa a tarefa de sua vida. É necessário um grande esforço para consegui-la, assim como a verdade e o conhecimento, pois a pérola esconde-se na concha, a concha está no fundo do mar e o mar é coberto por ondas.

No simbolismo, a pérola está ligada à Lua, à Água e à Mulher. Nascida nas águas, uma concha representa a feminilidade criativa. Desse triplo simbolismo, Lua, Água e Mulher, destacam as suas propriedades mágicas, medicinais e obstétricas, devido à grande semelhança entre a pérola e o bebê.

Em função desse simbolismo, seduzida pelo encantamento dessa pedra preciosa, estudando a sua afinidade, não pude deixar de transformar a concha e sua pérola numa metáfora para a gravidez e bebê. Como é maravilhoso o processo de formação de uma pérola! Como é encantador o processo de formação de um bebê! Que poder mágico gira em torno deles!

Afinal, o que é uma pérola?

O termo pérola é derivado da palavra latina “sphaerula”, que quer dizer esfera. As pérolas são, na verdade, uma reação dos moluscos a corpos invasores, como grãos de areia, que penetram na concha. As conchas são revestidas pelo Nácar, também chamado de madrepérola, que é produzido em seu interior para proteger a indefesa ostra. E ele por sua vez tem a gloriosa missão de envolver com pequenas camadas impermeáveis qualquer substância que nela se alojar. Um grão de areia é sempre o mais comum. Lentamente, num processo que leva muitos anos, vai se formando ali uma bolinha com reflexos irisados, ou seja, com as cores de um suave arco-íris.

Assim como na pérola, a cor da madrepérola vai depender da cor do interior da ostra. Se a ostra tem um interior rosado, a madrepérola será rosada, se for da cor creme, a madrepérola terá a cor creme. Alguns tipos de madrepérola apresentam graduações sutis de cores, às vezes creme com nuances prateadas, ou creme com nuances rosadas. A madrepérola pode refletir frequências diferentes da luz de acordo com a maneira como é iluminada, de modo que pode apresentar cores variadas que vão do rosa ao azul, verde e amarelo, em várias tonalidades.

Os moluscos criam a madrepérola para proteger-se. Além de ser a parte da concha, a madrepérola também isola moluscos da infecção bacteriana, e reduz a irritação do material orgânico que vai à deriva na concha. Só a camada exterior da pérola é coberta de madrepérola; por isso é importante cuidar bem das pérolas para que elas não rachem.

A gravidez de uma mulher tem semelhanças incríveis com o processo de formação de uma pérola. Enquanto os moluscos criam madrepérola para proteger-se, a placenta é constituída por uma porção fetal e outra porção materna, criada na mulher, que além de muitos outros encargos como nutrir tem a função de proteger o bebê. Ela funciona como um filtro, uma barreira tentando impedir que algumas substâncias nocivas possam ultrapassar e prejudicar o desenvolvimento do bebê.

A natureza tem belezas misteriosas, e a própria pérola é resultado de um processo longo laborioso, construído camada por camada. Assim como a gravidez é um processo longo, laborioso, a pérola segue o mesmo princípio e o resultado é igualmente semelhante. O bebê é a pérola que vem enfeitar o mundo. E assim como a pérola, cuja cor vai depender do interior da ostra, as características do bebê estão diretamente relacionadas aos seus progenitores.

O nácar, ou madrepérola, substância que é produzida a pérola, de certa forma simboliza a dedicação materna na construção do seu bebê. Cada esforço, cada momento de dedicação, cada alimentação, cada esperança, cada exercício, é como se fosse uma camada de nácar na construção do seu bebê-pérola.

E sendo a madrepérola a representação do feminino, certamente estará ligada à maternidade, que representa uma das mais sublimes maneiras de realização da alma feminina. A consciência da maternidade dá à mulher um sentimento de plenitude. Algumas mulheres têm a sensação de grandiosidade, como se o mundo se abrisse sobre elas e como se a vida ganhasse novo sentido: o sentido de eternidade. A maternidade talvez seja a única experiência verdadeiramente eterna.

A gravidez dá à mulher um brilho singular, e assim como a pérola, não necessita ser lapidada, sua beleza se destaca com naturalidade de forma sublime. Irradia luz por onde passa. Assim como uma jóia, é admirada e cobiçada.

Estudos comprovam que o ambiente, a alcalinidade, a pureza da água, influenciam na característica do nácar, e se a pérola tivesse vontade própria, escolheria a melhor água, o melhor sal, a melhor luz e a melhor temperatura para se formar. Já a mulher tem o livre arbítrio, de poder escolher estar bem informada, bem feliz, saudável, para assim produzir um lindo bebê.

Procuro com isso, traçar o horizonte de um mundo no qual a mulher possa ocupar o lugar central e não ser esquecida por estar gerando um filho. Existem vários livros e artigos que discorrem sobre a gravidez e grande parte deles refere-se aos cuidados para gestar um bebê saudável. O meu propósito é salientar a mulher que existe por trás de uma linda barriga: VOCÊ! Muitas vezes é preciso lembrar que além de ser concha, você também é uma grande pérola.

As pérolas são tão eternas quanto a maternidade.
um grande abraço,
Marília Campos

Nenhum comentário:

Postar um comentário